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André Rebouças

Data Escolhida: 13 de Janeiro de 1838
Assunto: André Rebouças

André Rebouças
Chegamos a um personagem ilustre que muito poucos reconhecem sua notoriedade, apesar de a maioria da população cruzar com suas obras pelo país. Em 13 de Janeiro de 1838, em Cachoeira na Bahia, nasceu André Pinto Rebouças, filho de Antônio Pereira Rebouças e Carolina Pinto Rebouças. Sr.Antônio era filho de uma escrava alforriada e de um alfaiate português, um mulato autodidata que obteve o direito de advogar, representou a Bahia na Câmara dos Deputados em diversas legislaturas e foi conselheiro de Pedro II, casou-se com Dona Carolina, filha de um comerciante, e juntos tiveram sete filhos.

André Pinto Rebouças nasceu em plena Sabinada1, a insurreição baiana contra o governo regencial. Em fevereiro de 1846, o Monarquista Sr.Antônio, diante das atribulações políticas da época, o chefe da família se vê obrigado a mudar-se com mulher e filhos para o Rio de Janeiro, André convalescia de um ataque de varíola, doença que volta a acometê-lo em 1872. André e Antônio (Antônio Pereira Rebouças Filho, irmão um ano mais novo e o mais ligado a André) foram alfabetizados por seu pai e frequentaram alguns colégios, em 1854 os irmãos ingressaram na Escola Militar.

Antônio Rebouças (Pai)
Em 1857 foram promovidos ao cargo de segundo tenente do Corpo de Engenheiros e complementaram seus estudos na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. André bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas em 1859 e obteve o grau de engenheiro militar no ano seguinte. Os dois irmãos foram pela primeira vez à Europa, em viagem de estudos, entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862.

Na volta, partiram como comissionados do Estado brasileiro para trabalhar na vistoria e no
Antônio e André Rebouças
aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas, no Sul do país. Em 01 de Janeiro de 1864 André volta à Corte e Antônio permanece em Santa Catarina. Não conseguindo apoio para a sua ideia de construir diques múltiplos no porto do Rio de Janeiro, André aceita uma comissão para estudar remodelações no porto do Maranhão. Na guerra do Paraguai, André serviu como engenheiro militar, desenvolveu um torpedo, utilizado com sucesso, permaneceu nela entre maio de 1865 e julho de 1866, quando retornou ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde, foi acometido de uma pneumonia.

Recuperado, André soluciona como engenheiro o problema de abastecimento de água na Capital Imperial, trazendo a água de mananciais de fora da cidade, além da construção das docas da Alfândega e Pedro II (onde permaneceu de 1866 até a sua demissão, em 1871). Em 1871, André e seu irmão Antônio, apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto da estrada de ferro ligando a cidade de Curitiba ao litoral do Paraná, na cidade de Antonina. Antes do início das obras da ferrovia, Antônio Rebouças segue para São Paulo, atendendo convocação para inspecionar as obras do Caminho de Ferro de Campinas a Limeira e São João do Rio Claro. Embrenhando-se nas matas paulistanas insalubres, é acometido por febre tifoide vindo a falecer em 26 de maio de 1874, com apenas 34 anos de idade. Quando da execução do projeto, o trajeto foi alterado para o porto de Paranaguá. É considerada até os dias atuais a mais temerária idealização e obra da engenharia nacional. André Pinto Rebouças, mesmo havendo sido o mentor dessa obra, pouco participou de sua execução. Engenheiro Civil como o irmão, trilhou outros caminhos e era conhecido por todos como o engenheiro brasileiro de ideias políticas muito avançadas para o seu tempo, cunhando a expressão democracia rural, precursora da reforma agrária.

Após a morte do irmão Antônio em 1874, muito abalado, resolve tomar parte de sociedades empenhadas na luta contra o trabalho escravo no país. Engajado na campanha abolicionista, ao lado de Machado de Assis, Cruz e Sousa e Olavo Bilac, foi um dos representantes da classe média brasileira com ascendência africana e uma das vozes mais importantes em prol da abolição. No ano de 1883 após viagem aos Estados Unidos (onde sentiu o peso do preconceito racial em Nova Iorque) e Europa retorna resolvido a dar continuidade às campanhas contra a escravidão no Brasil, já animadas pelas manifestações de rua e pelos debates parlamentares. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.

Ao mesmo tempo, amante da música erudita, se esforça em captar recursos no exterior, para ajudar o então jovem Carlos Gomes, a concluir a obra que o imortalizou, a ópera “O Guarani”, que ganhou projeção internacional por ser a primeira do gênero com marcante característica brasileira, na qual os índios tinham o papel de primeiro plano.

Ao participar do ultimo baile do império, na Ilha Fiscal, em 09 de novembro de 1889, quase às vésperas da proclamação da república foi recusado por uma dama o seu convite para dançar. Observando o ocorrido, o Imperador D. Pedro II imediatamente solicita à Princesa Isabel para ser seu par. A abolição assinada pela Princesa Izabel acirrou os ânimos dos grandes proprietários de terras, culminando com o movimento militar de 15 de novembro de 1889 e a proclamação da República.

André Rebouças
Fiel ao Imperador D. Pedro II e ao regime monárquico, André embarca juntamente com a família imperial no paquete Alagoas com destino ao exílio na Europa. Inicialmente permanece em Lisboa, com intensa atividade como jornalista correspondente do “The Times” de Londres. Porém, logo se transfere para Cannes, na França onde fica até a morte de D. Pedro II. Financeiramente arruinado aceita emprego em Luanda em África por pouco tempo, mudando-se posteriormente para Funchal, na Ilha da Madeira, em meados de 1893.

Mentalmente abalado pela morte de D. Pedro II, exilado e falido, sua morte aos 60 anos de idade foi cercada de mistérios (teve boatos de suicídio). Há apenas o triste relato de que no dia 9 de maio de 1898, seu corpo foi resgatado em uma praia, na base de um penhasco de cerca de 60 metros de altura, junto ao mar e próximo do hotel onde vivia.

André Rebouças foi também secretário do Instituto Politécnico e redator geral de sua revista. Atuou como membro do Clube de Engenharia, e muitas vezes foi designado a receber estrangeiros, por falar inglês e francês. Participou da Associação Brasileira de Aclimação e defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, e o melhor preparo e acondicionamento dos produzidos aqui, para concorrerem no mercado internacional. Foi responsável ainda pela seção de Máquinas e Aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

O reconhecimento à família Rebouças está nas denominações em importantes obras de engenharia e outras formas, tais como: Avenida Rebouças, na cidade de São Paulo (originalmente chamada Rua Doutor Rebouças) homenageia André Rebouças. O Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro, foi assim nomeado em memória de André e Antônio Rebouças. Em Porto Alegre (Rua Engenheiro Antônio Rebouças) e Curitiba (Bairro Rebouças e Rua Engenheiros Rebouças). Nome da cidade de Rebouças (Paraná) também é uma homenagem ao engenheiro Antônio Rebouças. Navio André Rebouças - batizado em dezembro de 2014 e viagem inaugural em maio de 2015.

Estava ansiosa por relatar sobre este personagem, acho-o um dos mais ricos de nosso calendário, não só pela história, mas por embasar e certificar um pensamento pessoal que sempre acalentei. Sempre achei que as crianças negras e pobres de nosso país, tinham poucas referências e espelhos para alimentar seus sonhos e desejos de sucesso.  Jogadores de futebol, cantores e/ou atores sempre fizeram parte do imaginário das crianças e adolescentes negros desse país, como modelo de sucesso. Mas, e se a criança for ‘ruim’ de bola? Se não tiver talento para cantar ou atuar? É justamente nesse momento em que o Tráfico de Drogas ou a Prostituição seduz essas crianças/adolescentes.

Mas, se contarmos com o elemento INFORMAÇÃO, essa sedução pode perder força. Não é um bom atleta, cantor ou ator? Porém, pode ser um grande nome da Engenharia, Medicina ou de qualquer outra profissão que possa proporcionar uma vida digna, abastada e de sucesso reconhecido, se esses irmãos engenheiros nascidos na Bahia, negros em pleno século XIX. Com o regime escravagista reinando no país, conseguiram. Quem não consegue? Sem dúvida os irmãos Rebouças são uma importantíssima referência para o povo negro brasileiro.


1 A Sabinada foi um levante armado ocorrido na província da Bahia, entre novembro de 1837 e março de 1838, tendo como palco principal a cidade de Salvador. O nome do movimento se deve a seu líder, Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, republicano, médico, jornalista e revolucionário federalista... A intenção dos revoltosos era apenas constituir uma “República Bahiense” até D. Pedro II alcançar a maioridade. Portanto, sua insatisfação foi estritamente dirigida ao governo regencial. Além disso, é preciso notar que a Sabinada não pretendia romper com a escravidão, pois desejava o apoio das elites escravocratas, o que não ocorreu. Entretanto, isso afastou a população escrava, a qual não foi convencida pela promessa de concessão de liberdade aos que lutassem e apoiassem o governo republicano... Leia mais em https://www.todamateria.com.br/sabinada/


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