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João da Baiana

Data Escolhida: 12 de Janeiro de 1974
Assunto: João da Baiana

João da Baiana
Em 17 de Maio de 1877 nascia no Rio de Janeiro, João Machado Guedes, o João da Baiana. Neto de escravos, filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança, caçula de 11 irmãos e o único carioca, todos os outros irmãos nasceram na Bahia. Seus avós mantinham uma tradicional quitanda de artigos afro-brasileiros e sua mãe, Tia Perciliana (ou Prisciliana), quituteira de mão cheia, junto com Tia Amélia do Aragão, Tia Veridiana, Tia Mônica e Tia Ciata as conhecidas Tias Baianas que moravam nas redondezas de Cidade Nova e Saúde, promoviam em suas casas festas de candomblé e rodas de samba clandestinamente. Aliás, é daí que veio seu apelido de João da Baiana.

Nesse universo festivo João foi criado e aprendeu samba e candomblé até os nove anos de idade. Cresceu na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, e teve como companheiros de infância, os futuros compositores Donga e Heitor dos Prazeres. Aos dez anos saía como porta-machado (figurante que abria os desfiles dos ranchos) no Rancho Dois de Ouro e no Pedra do Sal, pioneiros no Rio de Janeiro, nesta época começou a compor sambas e demonstrava grande aptidão pelo pandeiro, introduzindo este instrumento nas batucadas de samba, e pelo feito é tido como o ‘Pioneiro’. Foi o primeiro a ser visto raspando a faca no prato, um instrumento de ritmo inusitado, típico do samba de roda do Recôncavo Baiano, também fruto de seu aprendizado com as baianas.

Aos dez anos de idade ingressou no Arsenal da Marinha. Aos doze dá baixa na Marinha,
Pixinguinha; João da Baiana e Donga
passando a ser ajudante de cocheiro de Hermes da Fonseca, futuro presidente da República. Aos 15 era auxiliar de carpinteiro de estaleiro, e atração nas festas pela sua habilidade como pandeirista. Tornou-se conhecido o episódio no qual a polícia apreendeu seu pandeiro (considerado um instrumento de marginal, na época) impedindo-o de tocar na casa do senador Pinheiro Machado, que, ao saber do fato, presenteou-o com um instrumento novo. O fato o fez abandonar a carreira militar, e passou a trabalhar no Porto quando tinha 20 anos, e em pouco tempo é promovido a fiscal. Em 1922 recusou o convite de Pixinguinha para fazer parte do grupo ‘Oito Batutas’ na viagem à Europa, com medo de perder o emprego fixo.

Suas primeiras composições foram ‘Pelo Amor da Mulata’ (1923) e ‘Mulher Cruel’ (1924), com Donga e Pixinguinha. No mesmo ano ingressou no rádio como ritmista, tocando pandeiro e prato-e-faca em diversas emissoras. Sua primeira gravação foi ‘Viva Meu Orixá’ (1931) Odeon 78, e fez parte dos grupos Velha Guarda e Diabos do Céu (1932), dirigidos por Pixinguinha. Foi um dos indicados por Villa-Lobos para participar das gravações realizadas no navio Uruguai (1940), sob a regência do maestro inglês, Leopold Stokowski. Seu jongo “Quê que rê quê quê” ou “Ke-ke-ré-ke-ké”,  ficou entre as 16 músicas selecionadas para a edição norte-americana da Columbia intitulada Native Brazilian Music, com dois álbuns.

Disco Gente da Antiga - Clementina de Jesus; 
Pixinguinha e João da Baiana
Fez carreira em grupos como Conjunto dos Moles, Alfredinho no Choro, Grupo do Louro, antes de formar com Pixinguinha e Donga a orquestra Diabos do Céu e o Grupo da *Velha Guarda (ou Guarda Velha, não conseguimos apurar com precisão o nome correto), cujo grande sucesso, Patrão Prenda Seu Gado, é um arranjo de antiga chula raiada criado pelos três. Casou-se, teve dois filhos que morreram ainda na infância e aposentou-se do emprego (1949). Depois de algum tempo afastado, volta a gravar em 1954 com a *Guarda Velha, a convite de Almirante. Tinha 81 anos quando gravou com Pixinguinha e Clementina de Jesus o disco “Gente da Antiga” (1968), produzido por Hermínio Bello de Carvalho, no qual canta a chula raiada ‘Cabide de Molambo’ e o samba-de-roda ‘Batuque na Cozinha’, que foi regravado em 1972 por Marinho da Vila.

Percebe-se que os encontros clandestinos de candomblé influenciaram bastante na religiosidade e na carreira musical de João, há relatos de que ele viajava com frequência para Salvador para visitar sua madrinha mãe-de-santo no terreiro do Gantois, pela época acredito que a Yalorixá regente no Gantois era Mãe Menininha. Ele foi um dos primeiros a gravar os então chamados pontos de macumba à frente do grupo João da Baiana no seu Terreiro (1953), um compacto com as músicas ‘Lamento de Oxum’ e ‘Cosme e Damião’ gravado pela Odeon em 78RPM. Em 1956 gravou ‘Vovó Joana do Aguiné’, antes em 52 gravou também ‘Lamento de Inhansã’ e ‘Lamento de Xangô’, e ainda tem Oxalá e várias outras obras deste universo, vale a pesquisa no Youtube.

Prato que pertenceu a João da Baiana
Integra a Coleção Almirante do MIS
João da Baiana foi Compositor Popular; Cantor; Passista; Instrumentista e Pintor Primitivista de Cenas de Carnaval e Paisagens. Em 1972, esquecido pelo grande público, passa a viver na Casa do Artista, onde morre dois anos depois, aos 86 anos de idade, em 12 de Janeiro de 1974. Hoje em dia, alguns pertences do músico integram o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (www.mis.rj.gov.br). Entre eles está o prato e faca de João da Baiana (Coleção Almirante), instrumento que o consagrou.

Composições:

  v  Pelo Amor da Mulata – 1923
  v  Mulher Cruel – 1924
  v  Pedindo Vingança - 1925
  v  O Futuro é uma Caveira – 1926
  v  Cabide de Molambo -1928
  v  Beijo de Moça - 1933
  v  Casado na Orgia - 1933
  v  Quê que rê quê quê ou Ke-ke-ré-ke-ké – 1940
  v  Mariposa – 1940
  v  João da Baiana no seu Terreiro – 1952/53/55/57/60
  v  Patrão Prenda o seu Gado - 1955
  v  Batuque na Cozinha - 1968


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