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Mestre Didi

Postado em 02/12/17

Data Escolhida: 02 de Dezembro de 1917
Assunto: Mestre Didi

Deoscóredes Maximiliano
dos Santos - Mestre Didi
Deoscóredes Maximiliano dos Santos nasceu em Salvador/BH em 02 de dezembro de 1917, o Mestre Didi, como popularmente ficou conhecido, era filho de Maria Bibiana do Espírito Santo (Yalorixá Mãe Senhora). Mãe Senhora era descendente da tradicional família Asipa, originária de Oyo e Ketu (território, hoje, onde está localizada a Nigéria), importantes cidades do império Yoruba. Seu pai, Arsênio dos Santos, ou como era conhecido, Alagbá Arsênio dos Santos (pertencia à ‘elite’ dos alfaiates da Bahia). A família se transferiu para o Rio de Janeiro, capital do país na época, momento em que houve uma grande migração de baianos para o Rio.

A igreja durante o período colonial e pós-colonial foi uma instituição de que a comunidade
Mãe Senhora e Carybé
 descendente de africanos inseriu em suas estratégias de luta pela alforria e reagrupamento social. Mestre Didi foi batizado, fez primeira comunhão e foi coroinha. Mesmo assim, a religião afro-brasileira entrou na vida de Mestre Didi hereditária e geneticamente. Sua mãe, uma das mais importantes yalorixás do culto candomblé, sua trisavó, Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Ase Aira Intile, depois Ilê Iya Nassô. Sua iniciação sacerdotal se deu aos 07 anos, sendo Sumo Sacerdote Alapini - Ipekun Oye - a mais alta hierarquia no culto aos ancestrais na tradição Yoruba. Mais tarde, já sacerdote da tradição afro-brasileira foi se dedicando inteiramente a ela afastando-se do catolicismo, embora o respeitando como 
Mãe Aninha
outra religião. Eugenia Ana dos Santos (Mãe Aninha), tratada por Didi como avó, foi quem o iniciou no culto aos Orixás e lhe deu o título de Assogba, Supremo Sacerdote do Culto de Obaluaiyê.

Mestre Didi, escritor e artista plástico encontrou na antropóloga Juana Elbein dos Santos, a companheira perfeita em todas as suas viagens pelo exterior. Casado com Juana, Didi conheceu vários países da África, Europa e as Américas. Os intercâmbios e experiências adquiridos em viagens contribuíram para os desdobramentos institucionais de luta, de afirmação da tradição afro-brasileira, e pelo respeito aos direitos à alteridade e identidade própria. Juana definia Didi como um sacerdote-artista:

“Didi exprime, através da criação estética, uma arraigada intimidade com seu universo existencial, onde ancestralidade e visão de mundo africano se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado ao universo nagô de origem yorubana, revela em suas obras uma inspiração mítica, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é o discurso sobre a experiência do sagrado, que se manifesta por meio de uma simbologia formal de caráter estético".

Mestre Didi e suas Peças
Como artista plástico, Mestre Didi, transmite os costumes, hierarquias, línguas, concepções estéticas, dramatizações, literatura e mitologia dos povos africanos, sobretudo a sua religião, visão de mundo e universo simbólico, possibilitando um conhecimento mais 
Peças de Mestre Didi
aprofundado sobre as influências dessa cultura na formação nacional brasileira. Em suas obras, manipula materiais e formas, objetos e emblemas que expressam as entidades sagradas, unindo a produção artística à prática religiosa. O orixá Obaluaiyê, juntamente com os orixás Nanã e Oxumaré constitui o Panteão da Terra para os Iorubas, servindo esses orixás como inspiração para suas produções. Como parte do Panteão da Terra, a força desses orixás estaria em elementos naturais como plantas e alguns objetos minerais, o que levou Mestre Didi a utilizar em suas esculturas materiais retirados da natureza, como palhas de palmeiras, conchas e búzios. As cores utilizadas também remetem a princípios sagrados, tendo por base o preto, o vermelho e o azul.

 "Os Orixás do Panteão da Terra são os que nos alimentam e nos ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos são inspirados na natureza, na Mãe Terra-Lama, representados pelo Orixá Nanã, patrona da agricultura". Mestre Didi.

Entre 1946 e 1989, publica livros sobre a cultura afro-brasileira, alguns com ilustrações de Caribé. Em 1966, viaja para a África Ocidental e realiza pesquisas comparativas entre Brasil e África, contratado pela UNESCO. Nas décadas de 60 a 90, participa como membro de institutos de estudos africanos e afro-brasileiros e como conselheiro em congressos com 
Terreiro Ilè Asipá
 a mesma temática, no Brasil e no exterior. Em 1980, funda e preside a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador. É coordenador do Conselho Religioso do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, que representa no país a Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura.

Mestre Didi morreu em 06 de outubro de 2013, aos 95 anos, em decorrência de um câncer de próstata em Salvador. Didi deixa uma filha, Inaicyra Falcão dos Santos, cantora lírica, graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia, professora doutora, pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporais da Unicamp. Algumas peças criadas por Mestre Didi podem ser apreciadas, em Salvador: na orla do Rio Vermelho, no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Mucab), e no Parque das Esculturas, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM).



Obras de Mestre Didi

Obras:

  • Yorubá tal Qual se Fala, Tipografia Moderna, Bahia, 1946
  • Contos Negros da Bahia, (Brasil) Edições GRD, Rio de Janeiro, 1961
  • História de Um Terreiro Nagô, 1.edição, Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1962, 2.edição, Editora Max Limonad, 1988
  • Contos de Nagô, Edições GRD, Rio de Janeiro, 1963.
  • Porque Oxalá usa Ekodidé, Ed. Cavaleiro da Lua, 1966.
  • Contos Crioulos da Bahia, Ed. Vozes, Petrópolis, 1976.
  • Contos de Mestre Didi, Ed. Codecri, Rio de Janeiro, 1981.
  • Xangô, El guerrero conquistador y otros cuentos de Bahia, SD. Ediciones Silva Diaz, Buenos Aires, Argentina, 1987.
  • Contes noirs de Bahia, tradução francesa de Lyne Stone, Ed. Karthale, 1987.
  • História da Criação do Mundo, Olinda, PE, 1988 - Ilustração Adão Pinheiro.
  • Ancestralidade Africana no Brasil, Mestre Didi: 80 anos, organizado por Juana Elbein dos Santos, SECNEB, Salvador, Bahia, 1997, CD-ROM - Ancestralidade Africana no Brasil.
  • Pluralidade Cultural e Educação
  • Nossos Ancestrais e o Terreiro
  • Democracia e Diversidade Humana: Desafio Contemporâneo

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