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Selma do Coco

Data Escolhida: 10 de Dezembro de 1935
Assunto: Selma do Coco

       Selma do Coco - Foto: Heudes Regis/JC Imagem
A 10 de Dezembro de 1935, em Vitória de Santo Antão, zona da mata de Pernambuco, nasceu Selma Ferreira da Silva. Viveu no interior pernambucano até os seus 10 anos de idade, junto com os pais frequentava as festas juninas e assim conheceu e tomou intimidade com a música tradicional da região, principalmente com o Coco de Roda.

O coco é um ritmo típico da Região Nordeste do Brasil. Há controvérsias sobre o estado em que se originou, sendo citados os estados de Pernambuco, da Paraíba e de Alagoas. "Coco" significa cabeça, de onde vêm as músicas, de letras simples sempre obedecem a um estribilho contínuo, sendo repetidos pelos dançarinos. Com influência africana e indígena, é uma dança de roda acompanhada de cantoria e executada em pares, fileiras ou círculos durante festas populares do litoral e do sertão nordestino. O coco tem várias nomenclaturas, varia de acordo com a região e os grupos envolvidos, o que lhes (grupos) confere a autonomia de recriar a dança e a transformar ao gosto da população local. O som característico do coco vem de quatro instrumentos (ganzá, surdo, pandeiro e triângulo), mas o que marca mesmo a cadência desse ritmo é o repicar acelerado dos tamancos (que são usados para imitar o barulho do coco sendo quebrado). A sandália de madeira é quase como um quinto instrumento, talvez o mais importante deles, além disso, a sonoridade é completada com as palmas.

Continuando... Selma mudou-se para Recife com a família, na capital conheceu o marido caminhoneiro e... Aqui ficamos com uma dúvida que nos atrapalhou um pouco na cronologia: Em algumas fontes diz que Selma casou, teve dois filhos, ficou viúva e criou 14 sobrinhos, em outras, diz que ela casou e teve 14 filhos e após a morte do marido mudou-se para Olinda. Já em outras, que ela teve apenas um filho (Zezinho) e criou 13 sobrinhos. Enfim...

Casou-se cedo, viveu por 15 anos no bairro da Mustardinha em Recife, ficou viúva aos 30 anos de idade, no final dos anos 50 mudou-se para Cidade Alta de Olinda com os filhos. Vendendo tapioca, sua única subsistência, para aumentar as vendas e atrair os turistas, uniu a culinária ao ritmo pernambucano, cantava o coco enquanto trabalhava, assim surgiu Dona Selma do Coco, ou simplesmente Selma do Coco. Em suas horas de folga promovia rodas de coco em seu quintal, o que a fez ganhar fama na região.

Nos anos 90, com então 64 anos de idade foi descoberta pela galera do Mangue Beat,
Dona Selma do Coco - A Rainha do Coco
Chico Science a introduziu na mídia elogiando e cantando suas músicas, assim passou a ser conhecida e reconhecida como a Rainha do Coco. A Rainha passou a se apresentar em todas as festas populares do Recife, de Olinda, Itamaracá e Itapissuma. Para atender aos pedidos dos fãs, gravava músicas de sua autoria, em fitas produzidas artesanalmente, e vendia o material durante as apresentações.  Dona Selma começou a vender shows, chegando inclusive a ser levada à Europa, onde com incentivo de um etnomusicólogo alemão teve a oportunidade de finalizar um disco (inédito no Brasil) em que registra o Coco de Roda numa de suas formas mais prosaicas, como havia aprendido com os pais durante a infância.

Muitos consideram o ano de 1996 como início da ascensão, quando a Rainha do Coco se apresentou em um palco pequeno, numa das edições do Festival Abril pro Rock, em meio à efervescência do movimento Mangue Beat. Naquele ano, foi destaque do festival, conquistando o público e aumentando sua legião de admiradores. Daí em diante, o sucesso da música “A Rolinha” – hit do carnaval de 1997 e interpretada por vários artistas pop e populares, garantiu à cantora repercussão nacional. O reconhecimento do mercado fonográfico brasileiro veio em 1999, com o prêmio Sharp pelo seu primeiro disco “Minha História”, gravado em 1998 com músicas compostas em parceria com Zezinho, pela gravadora Paradoxx Music. Seu segundo disco, "Jangadeiro", foi lançado em 2004. Chico Science, Lia de Itamaracá e Lenine são alguns dos artistas que jogaram focos de luz nas composições de Selma, a Rainha ‘eterna’ do Coco.


A Rolinha
Dona Selma do Coco/Zezinho

Eu vi um sapo correndo de lá,
A menina que chorou,
Quando olhei pra gaiola eu vi,
A minha rola que vôo.
Oi corre, corre, corre,
Pega, pega minha rola,
“avôa”, “avôa”, “avôa”,
Pega, pega minha rola.
Eu não vou na sua casa,
Pra você não ir na minha,
Que tu tem a boca grande,
Vai comer minha galinha.

E foi assim, com seus marcantes “há-hás”, que Dona Selma começou a circular na grande mídia. Registros mostram que jornais como Folha de São Paulo, Estadão, Jornal do Brasil, O Globo e Correio Brasiliense estamparam as cores do Coco em diversas páginas ou como a feminina revista Marie Claire fez questão de destacar a força dessa nordestina que lutou para não deixar uma importante parte da cultura pernambucana desaparecer. Nem mesmo o New York Times se ausentou de registrar a presença da rainha do Coco por terras americanas, já que a conquista teve passagem meteórica pelo Festival Lincoln Center, em New York, e orgulhosamente foi a principal atração brasileira no 32º New Orleans Jazz & Heritage Festival, nos EUA, além de fazer shows na Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Suíça e Portugal.

Durante a excursão pela Europa, atendendo a um convite do Instituto Cultural de Berlim, gravou o disco Heróis da Noite, ao lado de cantores africanos e de outros países. Foi no Studio Ufa Fabrik, ainda nesse país, que gravou e mixou seu disco Cultura Viva. Lá, ela chegou a ser, inclusive, tema de doutorado sobre Cultura Popular. Na Europa, a música da “Rainha do Coco” não é somente recordação, pode ser encontrada em Cd’s feitos especialmente para admiradores de world music. Em mais de 60 anos de carreira, Selma do Coco gravou nove discos, um DVD, fez participação em trabalhos de outros artistas e em cinco filmes pernambucanos.

O sucesso de Selma do Coco serviu de inspiração para o minidocumentário "Som da Rua", lançado em 1997 por Roberto Berliner. No filme, Selma fala sobre as influências e origens do coco. Ganhou Menção Especial do Júri no Mostra Internacional do Filme Etnográfico/RJ - 1998, além do prêmio Sol de Prata no Rio Cine, em 1997. Considerada a musa da nova geração da música de Pernambuco; e Patrimônio da Cultura do Estado de Pernambuco (em 2005 ganhou o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, honraria dada pelo Governo de Estado). Em agosto de 2010, foi homenageada pelo Ministério da Cultura e pelas comemorações dos 22 anos da Fundação Palmares, como uma das divas da cultura negra brasileira (Afro-brasileira) na área do segmento artístico. Selma do Coco morreu em 09 de Maio de 2015, aos 80 anos, devido a complicações decorrentes de uma parada cardíaca seguida de falência múltipla dos órgãos, após passar 28 dias internada para tratar de uma fratura no fêmur, causada após uma queda no banheiro de casa.
“Morre quem canta, mas a cultura num morre nunca”. 

Selma do Coco

Assista ao lindo encontro de Dona Selma e Lenine em: https://www.youtube.com/watch?v=aPmLmicJO-0  


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